Ontem vi pela segunda vez o último filme da triologia O Senhor dos anéis - O regresso do Rei - e é impressionante a forma como Tolkien consegue, mesmo entre tanto mal, evocar os mais nobres valores e sentimentos.
Muito haveria para dizer, sobre todos os personagens, mas deixem-me falar-vos do que, desde sempre, mais me interpelou: Samwise Gamgee. O inseparável companheiro de viagem de Frodo. Um inestimável exemplo de amizade, lealdade e compromisso.
Se nos espanta a escolha do pequeno hobbit, Frodo, para levar o anel, quando seria de esperar que o escolhido fosse um dos destemidos e experimentados guerreiros ou feiticeiros que compunham a Irmandade, menor não é o espanto quando Gandalf para o acompanhar, escolhe Samwise. Não é, portanto, a força física, nem são as características que usualmente valorizamos as que determinam esta escolha. Só o que não se deixa corromper pelo anel pode levá-lo. Só alguém de coração puro. E só alguém de coração puro para o acompanhar. Isto é bonito. O anel, portador de um grande poder para realizar o mal, capaz de corromper qualquer um, torna-se inofensivo nas mãos de alguém que aceita dar a sua vida para servir os outros. Porque é disso que se trata. Aceitar uma tarefa que, à partida, pode implicar a morte, em prol de um bem comum.
Samwise aceita a mesma tarefa. Com uma nobreza, humildade e entrega únicas. Ele não ambiciona para si o papel de herói. Anula-se em favor de Frodo. Aceita a doação da sua vida por algo que, à partida, nem compreende muito bem. E está determinado a ir até ao fim. É impossível esquecer a cena do primeiro episódio em que Frodo embarca sozinho numa canoa, determinado a poupar Sam deixando-o para trás, e ele entra na água arriscando afogar-se para chegar até ao amigo. Ele não quer ser poupado. Quer acompanhar o amigo e honrar o seu compromisso até ao fim.
Mesmo quando no último episódio, por causa das intrigas de Gollum, Frodo o manda embora, Samwise não o abandona. Humilhado, mesmo magoado pela desconfiança de Frodo, Sam vence o orgulho e volta para trás ao encontro do amigo que sabe em perigo. E quando na encosta da montanha, já próximo do final da missão, Frodo desfalece, é Sam que o carrega nos seus ombros. Sam sabe que a sua missão não é tomar o lugar do amigo. Sabe que não lhe cabe a si levar o anel. A sua missão é ajudar Frodo a chegar ao final do caminho. E fá-lo.
À partida, vermos que os escolhidos são os menos destemidos e fortes, de entre as várias possibilidades, quando comparados com os inimigos que terão de enfrentar parece-nos loucura. Parece loucura que Frodo aceite a sua missão. Parece loucura ainda maior que Samwise aceite acompanhá-lo e que não aproveite as oportunidades que o amigo lhe dá para salvar a sua vida. É loucura uma amizade assim.
Mas este é o projecto de Amor em que estes dois hobbits embarcam. Arde-lhes no coração o desejo de cumprirem esta tarefa. E, juntos, cumprem-na.
Talvez seja verdade, como se lê algures na Escritura, que Deus escolhe o louco para confundir o sábio. E, pelas lentes dos nossos óculos, quase todos os projectos de Amor, parecem ser projectos de loucos.
Porque temos a vida como coisa que é muito nossa...
: ) Hugo
</font>. Para ser grande, sê intei...
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